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Lula nasceu em 1945, em Caetés, numa casa de dois cômodos e chão de terra batida no Semiárido pernambucano, filho de Eurídice e Aristides. Seu pai decidiu tentar a vida como estivador em Santos, levando consigo Valdomira, uma prima de Eurídice, com quem formaria uma segunda família
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Em dezembro de 1952, quando Lula tinha apenas sete anos de idade, Eurídice (mãe dele) decidiu migrar para o litoral do estado de São Paulo com seus filhos para se reencontrar com o marido, pensando que o pai de Lula queria isso.
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Aos 7 anos, Lula começa a trabalhar como vendedor ambulante ao lado do irmão Ziza (apelidado de Frei Chico depois de adulto), três anos mais velho. Amendoim, tapioca, laranja... Tímido, morria de vergonha de gritar "Olha a laranja!" no cais de Santos. Acabou virando engraxate no Centro da cidade.
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Em 1954, com a difícil convivência com o marido, Eurídice muda-se para a capital com os filhos, onde foi viver num cômodo atrás de um bar localizado na Vila Carioca.
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Lula e seu irmão José Ferreira de Melo ficaram morando algum tempo ainda com o pai, junto com sua segunda família, mudando-se para São Paulo em 1956.
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Aos catorze começou a trabalhar nos Armazéns Gerais Colúmbia, onde teve a carteira de trabalho assinada pela primeira vez, permanecendo ali por seis meses. Com esta idade, se viu obrigado a deixar a escola e foi trabalhar em uma siderúrgica que produzia parafusos.
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Foi no novo trabalho que, em 1964, em um torno mecânico esmagou seu dedo, tendo que esperar por horas até o dono da fábrica chegar e levá-lo ao médico, que optou por cortar o resto do dedo mínimo da mão esquerda. A mutilação lhe deixou alguns anos com complexo. Trabalhou então na Frismolducar por seis meses, sendo demitido porque se recusou a trabalhar aos sábados.
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Depois de muito tempo desempregado, Lula, em 1966 foi admitido nas Indústrias Villares, uma grande empresa metalúrgica de São Bernardo do Campo
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Em 1968, durante a ditadura militar, filiou-se ao Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
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Lula foi eleito, em 1969, para a diretoria do sindicato dos metalúrgicos da cidade, dentre os suplentes, continuando a exercer suas atividades de operário.
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Aos 23 anos, casa-se com Maria de Lourdes, sua namorada desde os 18. A cerimônia é simples, na casa de Dona Lindu, com churrasquinho e guaraná. O casal parte em lua de mel para Poços de Caldas, no Sul de Minas. Lourdes é irmã de seu melhor amigo, Jacinto Ribeiro dos Santos, o Lambari.
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Um ano e meio após o casamento, Lourdes anuncia que está grávida.
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Grávida de sete meses, Lourdes adoece. Lula peregrina por hospitais da rede pública tentando interná-la. Em vão. Anêmica, vítima de hepatite e da negligência dos médicos que resistiram a interná-la, Lourdes morre durante uma cesariana de emergência. O bebê, um menino, também não resiste.
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Pela primeira vez desde o curso do Senai, troca o chão da fábrica por uma sala no sindicato. Integra novamente a chapa reeleita para a diretoria do sindicato, não mais como segundo suplente, mas como primeiro-secretário. Dirige o departamento jurídico e responde pelo setor de previdência social, recém criado.
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Lula emerge do luto mais extrovertido e namorador. Viúvo, morando novamente com a mãe, passa a frequentar bailes e barzinhos quase toda noite, após o expediente no sindicato. Engata um breve namoro com a enfermeira Miriam Cordeiro e, pouco depois, conhece Marisa Letícia Casa, viúva como ele e mãe de Marcos, um menino de 2 anos. Lula está apaixonado por Marisa quando fica sabendo que a ex-namorada está grávida.
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Nasce Lurian Cordeiro da Silva, sua filha com Miriam Cordeiro. Lula assume prontamente a menina, diferentemente do que afirmaria a campanha de Fernando Collor de Mello, em 1989, numa tentativa de desmoralizar o adversário.
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Seis meses após se conhecerem, Lula e Marisa casam-se no civil.Passam a lua de mel em Campos do Jordão. Lula oficializaria a adoção de Marcos,o enteado, quando o menino tinha 10 anos.
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Sua atuação na diretoria lhe deu grande destaque, sendo então eleito presidente do mesmo sindicato em 1975.
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Nasce Fábio Luiz, primeiro filho de Lula e Marisa, nove meses e nove dias após a festa de casamento.
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Em nova eleição, Lula é eleito presidente do Sindicato, com 92% dos votos, e assume o desafio de liderar uma categoria imensa, com cerca de 100 mil operários e em nítida expansão. Popular e bom negociador, Lula é apoiado por metalúrgicos de diferentes tendências políticas. Na posse, Lula lê um discurso no qual faz críticas tanto ao capitalismo quanto ao socialismo, qualquer regime que tolhesse a liberdade dos cidadãos, algo pouco comum nos tempos polarizados de Guerra Fria.
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Lula ganhou projeção nacional ao liderar a reivindicação em 1977 da reposição aos salários de índice de inflação de 1973, após o próprio governo reconhecer que aquele índice havia sido bem maior que o inicialmente divulgado e então utilizado para os reajustes salariais. Apesar de ampla cobertura na imprensa, ainda na vigência do AI-5, o governo não cedeu aos pedidos.
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O pai de Lula morre em 1978, sendo enterrado como indigente (Lula e seus irmãos só souberam da morte do pai vários dias após o enterro).
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Lula é reeleito presidente do sindicato com 98% dos votos. Desde sua posse, imprimira um jeito moderno e eficiente de envolver a categoria.
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Nasce o filho Sandro Luiz
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Tão logo o ano começa, o sindicato resolve preparar a categoria com antecedência para uma greve geral, capaz de sacudir o país. Assim, teriam mais tempo de conscientizar os trabalhadores, afinar discursos e lista de reivindicações, e melhor preparar as atividades de maio.
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É deflagrada a greve geral. A adesão supera as expectativas e obriga a diretoria do sindicato a transferir a assembleia para o estádio de futebol da Vila Euclides, único local em São Bernardo capaz de comportar os 80 mil trabalhadores que comparecem na tarde do dia 13.
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A greve é considerada ilegal pela Justiça do Trabalho. Dali a dois dias, já havia 170 mil metalúrgicos parados em todo o ABC.
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Lula pede um voto de confiança e expõe as condições da trégua. "Ao final desse período, se as nossas reivindicações não forem atendidas, eu mesmo decretarei a volta da greve", ele diz. Após 45 dias, os patrões firmam um bom acordo com o sindicato, mas não cumprem a promessa. Lula é chamado de traidor e vendido. Com sua legitimidade em risco, Lula propõe a destituição da diretoria e a convocação de nova eleição. No final do processo, sua diretoria é aclamada por unanimidade.
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Início da greve: 140 mil metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema cruzam os braços. Querem reajuste real de 15% nos salários, enquanto as empresas oferecem 3,6%, além de instrumentos de garantia de emprego e redução da jornada de trabalho de 48 para 40 horas semanais.
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O Tribunal Regional do Trabalho declara a paralisação ilegal. A repressão parte para cima dos grevistas, com rondas ostensivas e o uso de helicópteros do Exército a sobrevoar as assembleias no estádio da Vila Euclides. Lula, Marisa e os filhos são vigiados permanentemente. Há sempre uma veraneio C14 parada perto de casa.
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Lula tem cassado seu mandato sindical. O ministro do Trabalho, Murilo Macedo, decreta, pela segunda vez, a intervenção no sindicato. Além de cassar a diretoria, proíbe o uso do estádio da Vila Euclides para assembleias. É decretada a prisão preventiva de Lula e outros 16 sindicalistas. Essas medidas deixam os operários enfurecidos, e Lula torna-se uma espécie de oráculo de toda a agenda trabalhista.
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Lula é preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Lula é levado para o Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS, onde ficaria por 31 dias com companheiros de movimento sindical. No cárcere, faria greve de fome, interrompida no sétimo dia após apelo do bispo de Santo André, Dom Cláudio Hummes.
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A greve termina no 41º dia, sem acordo, mas com um importante saldo político. Embora cerca de 1.500 trabalhadores grevistas tenham sido demitidos nos dias que se seguiram ao final da paralisação, o direito de greve tornou-se uma bandeira reivindicada nacionalmente, e que seria garantida anos depois, na Constituição de 1988.
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Morre Dona Lindu (mãe de Lula), aos 64 anos, vítima de um câncer no útero, no Hospital Beneficência Portuguesa de São Caetano. No dia seguinte, Lula é autorizado por Romeu Tuma, então diretor do Dops, a deixar a prisão, escoltado, para ir ao enterro da mãe.
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A prisão preventiva de Lula é revogada e ele pode voltar para São Bernardo, onde é recebido com festa. Sua primeira atitude ao chegar em casa é abrir uma gaiola e libertar um passarinho. Naquele mesmo ano, Lula fundaria o PT. Em fevereiro de 1981, seria condenado pela Justiça Militar a três anos e seis meses de prisão. Recorre em liberdade e, em maio de 1982, o processo é anulado pelo Superior Tribunal Militar.
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É fundado o Partido dos Trabalhadores, no Colégio Sion, em São Paulo. Lula é eleito primeiro presidente do PT.
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Dois anos depois, o Tribunal Superior Eleitoral reconhece oficialmente a fundação do PT e o autoriza a disputar as eleições gerais daquele ano, nas quais seriam escolhidos governadores, senadores, deputados federais e estaduais, bem como vereadores e prefeitos do interior.
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Nasce Luiz Cláudio, o filho caçula de Lula.
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Lula é candidato a presidente da República. Lula começa a ser apontado como favorito.
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Após vários escândalos apontados contra Lula pela oposição, Lula é derrotado no segundo turno, obtendo 31.076.364 votos contra 35 milhões atribuídos ao candidato eleito. Collor tem 53% dos votos válidos e Lula, 47%.
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A Câmara aprova o impeachment do primeiro presidente eleito após a redemocratização. Pesquisas mostram que, se a eleição para presidente ocorresse naquele momento, Lula seria eleito.
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Lula é candidato à Presidência da República pela segunda vez. Seu principal adversário é o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
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Lula obtém 18% dos votos e é derrotado no primeiro turno por FHC, que se elege com 36%.
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Depois de passar todo ano de 1997 informando que não seria candidato, Lula cede aos apelos do partido e aceita disputar pela terceira vez a Presidência da República. Perde novamente para Fernando Henrique Cardoso, no primeiro turno.
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Lula vence o primeiro turno com o dobro de votos de José Serra (PSDB), segundo colocado (46,4% dos votos contra 23,2%)
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No segundo turno, Lula é eleito presidente da República, exatamente no dia de seu aniversário de 57 anos.
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Lula é o primeiro presidente da República a discursar no Fórum Social Mundial, em sua terceira edição, em Porto Alegre. "Governar é como uma maratona: você não pode começar a 80 por hora porque o seu fôlego pode acabar na primeira esquina. Você tem que dar uns passos sólidos, concretos, para que você possa terminar o governo com a certeza de um dever cumprido."
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Lula unifica programas sociais como o Fome Zero e outros e cria o Programa Bolsa Família, que beneficia 3,6 milhões de famílias num primeiro momento e viria a se tornar o carro-chefe do governo.
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Em entrevista à Folha de S. Paulo, o deputado federal Roberto Jefferson, presidente do PTB, acusa o governo de pagar mesadas a deputados em troca de votos favoráveis a projetos de lei de seu interesse. Uma nova palavra desponta no noticiário: "mensalão". É o início da maior crise do governo Lula.
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Lula é reeleito com mais de 58 milhões de votos, ou 60,8% do eleitorado. Em números absolutos, é a maior votação obtida por um chefe de Estado no Ocidente.
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Lula inaugura obras do PAC no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e apresenta Dilma Rousseff como "mãe do PAC". A ministra-chefe da Casa Civil desponta como provável candidata do PT à sucessão presidencial.
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É lançado o programa Minha Casa, Minha Vida com recurso da Caixa Econômica Federal.
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Indicada por Lula, Dilma Rousseff é confirmada como candidata a presidente da República em congresso nacional do PT.
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Dilma Rousseff vence o primeiro turno com 47% dos votos e disputa o segundo com o tucano José Serra.
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Dilma é eleita presidente da República com 55.752.529 votos (56%).
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No dia 1º de janeiro de 2011, o primeiro operário a ocupar a sala principal do Palácio do Planalto passaria a faixa verde-amarela para a primeira presidenta do Brasil. "Eu penso que o Brasil mudou. O Brasil mudou na relação com a sociedade. Nunca antes os humildes foram tratados com tanta deferência (…), nunca os estudantes e os professores foram tratados com o respeito que foram tratados. Isso demonstra o grau de maturidade que o Brasil alcançou."