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O declínio do Califado foi caracterizado por uma crise econômica e institucional. Uma série de secas do Nilo esultou em fome intermitente por quase vinte anos, enquanto o califa al-Mustansir foi forçado a vender os tesouros imensos da dinastia para controlar o exército, que estava se fragmentado. A situação deteriorou-se a ponto de a pobreza ser generalizada, afetando até mesmo a família Fatímida, em meio a saques e guerra civil entre as facções militares.
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O período de guerra civil e transição de poder (1168-1171) provocou a quebra do comércio interno e a perda drástica de arrecadação fiscal, com o cerco ao Cairo paralisando as rotas comerciais do Delta. Paralelamente, o avanço das forças sírias de Nur ad-Din no conflito culminou na ascensão de Saladino, subordinando a economia egípcia aos interesses damascenos e pondo fim ao estado Fatímida.
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As reformas de Saladino centraram-se na reorganização do sistema financeiro e fiscal do novo estado aiúbida. O confisco das propriedades e terras da elite fatímida, a restauração das rotas mercantis e a implementação de novos mecanismos de tributação foram algumas medidas tomadas para recompor os cofres públicos esvaziados pela guerra civil.
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O sistema iqṭāʿ estabeleceu a base econômico-militar do estado aiúbida através da concessão de terras a oficiais em troca de serviço militar. Esta sistematização das doações de iqṭāʿ(terras) criou um mecanismo regular de sustentação do exército e de arrecadação tributária, substituindo gradualmente os pagamentos em dinheiro e fortalecendo o controle central sobre as províncias.
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A expansão agrícola representou um esforço central de recuperação econômica, com o restabelecimento dos sistemas de canais de irrigação na região. Esses investimentos em infraestrutura hidráulica resultaram em significativo aumento da produtividade agrícola e da arrecadação rural, fortalecendo a base fiscal do estado aiúbida durante este período de consolidação.
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Período de consolidação das rotas marítimas egípcias, articulando o Mediterrâneo ao Oceano Índico. No Mediterrâneo, portos como Alexandria mantinham um intenso comércio com mercadores italianos, que negociavam especiarias e outros bens de luxo, conforme atestam os acordos comerciais e a presença de seus funduqs. O Egito também fortaleceu seu controle sobre a rota do Mar Vermelho, implementando um sistema aduaneiro que canalizava a riqueza do comércio oriental para seus cofres.
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Sinais de queda na produtividade agrícola tornaram-se evidentes, particularmente na região do Fayyum que antes havia experimentado expansão. O estado aiúbida respondeu com rigorosas inspeções fiscais e reavaliações de impostos, buscando readequar a arrecadação à nova realidade econômica. Esses relatórios de declínio de safras e as posteriores reorganizações administrativas marcaram o fim do período de expansão e o início de desafios econômicos crescentes.
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O golpe que estabeleceu o Sultanato Mamluco representou uma grande transformação na estrutura de poder egípcia. Os Mamlucos transformaram o sistema de iqtaʿ em uma forma de feudalismo militar, centralizando o controle estatal e criando uma nova aristocracia militar que governaria o Egito pelos próximos séculos. Essa mudança marcou o fim do período aiúbida e o início de uma nova era de governo militarista.
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A crise monetária do século XIV representou um colapso do sistema financeiro mameluco, caracterizado pela grande fome de prata e desvalorização cambial. O colapso do dirham baseado em prata provocou inflação generalizada e a contração do comércio interno, à medida que os mecanismos de intercâmbio comercial foram severamente prejudicados, refletindo as vulnerabilidades estruturais da economia egípcia deste período.
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Período marcado pela estagnação econômica do Egito mameluco, com crise agrícola, colapso fiscal e ruptura monetária convergindo numa crise estrutural. Os relatos contemporâneos de al-Maqrīzī descrevem fomes generalizadas e carestia, reflectindo o esgotamento do modelo económico que havia sustentado o estado pós-saladino. Esta crise multidimensional marcou o início do declínio que caracterizaria os séculos seguintes.